O segundo maior navio do mundo para fazer perfurações científicas no fundo oceânico, o Joides Resolution (Fig.1), está em Lisboa, atracado em Alcântara, acabado de chegar de uma missão científica ao Golfo de Cádiz, largo da costa algarvia, a sul, e sudoeste atlântico. Depois de dois meses no mar, e de sete paragens para recolher amostras de lamas e sedimentos a profundidades que chegaram aos 990 metros no interior do subsolo marinho, a expedição chegou ao fim e tem novidades para contar.
Há mais de seis milhões de anos, o Mediterrâneo era um mar fechado. Então, há 5,3 milhões de anos, o Estreito de Gibraltar começou a abrir-se, e depois disso, a cada novo período de um milhão de anos, como se uma batida cardíaca tomasse conta da Terra naquele lugar, o canal abria-se mais e mais, e ganhava profundidade, com movimentos terrestres intensos e torrentes de sedimentos lançadas no fundo marinho, junto à costa Sul e sudoeste da Península Ibérica. "A surpresa", disse Dorrik Stow, "são as grandes mudanças periódicas a cada novo período de um milhão de anos".
Dorrik Stow avançou, em conferência de imprensa, o seguinte: “A quantidade de areia descarregada no Mediterrâneo vai gerar uma camada que dá excelentes reservatórios para hidrocarbonetos”, acrescentando que, até agora, não se sabia da existência destes potenciais reservatórios.
Assim, “é maior a probabilidade de existir ali petróleo”, um dado a ter em conta pelas empresas que fazem este tipo de prospecção, concluiu.
Assim, “é maior a probabilidade de existir ali petróleo”, um dado a ter em conta pelas empresas que fazem este tipo de prospecção, concluiu.
Fig. 2 |
Este tipo de areia branca, “limpa e bem calibrada”, encontra-se desde o Estreito Gibraltar até oeste de Portugal, subindo a Espanha e a Escócia, em direcção à Noruega. Francisco Hernández-Molina, do Departamento de Geociências Marinhas, da Universidade de Vigo, acrescentou que no Brasil existem depósitos de areias deste tipo com gás e petróleo.
Mas as novidades não ficam por aqui. As primeiras análises físicas e geoquímicas dos sedimentos recolhidos, feitas nos laboratórios do navio, que está equipado com todas as tecnologias de ponta necessárias para isso, permitiram também fazer o primeiro retrato climático dos últimos 1,5 milhões de anos, que abrangem pelo menos quatro eras glaciares da história da Terra. Um dado novo, por exemplo, é que há um milhão de anos, durante um período de 10 a 20 mil anos, a água do mar à superfície tinha temperaturas polares, da ordem dos quatro graus Celsius, ao largo de Faro, adiantou a paleontóloga Antje Voelker.
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